DE BELÉM (PA) — A fumaça de uma churrasqueira modesta invadia todo o salão fechado da Agrizone, onde homens, quase todos brancos e muitos usando chapéu, seguravam marmitinhas de papel com picanha, arroz carreteiro, feijão tropeiro, farinha e vinagrete. Entre eles, de chapéu de palha, estava Silvério Fernandes, madeireiro e envolvido em diversos conflitos agrários de Anapu e Altamira, na região do Vale do Xingu, no Pará.
Na noite desta segunda-feira (17) Silvério estava na primeira fila da plateia durante a cerimônia que antecedeu o churrasco promovido pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), parte do Dia da Pecuária Sustentável dentro da Agrizone, o pavilhão do agronegócio que integra a programação oficial da COP30. Depois, circulou entre dirigentes, políticos e empresários.
Em 2002, Três anos antes do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, Silvério a ameaçou diretamente ao oferecer-lhe uma carona e afirmar que, se alguém invadisse suas terras, “teria sangue até a canela”.
Dorothy registrou o episódio na Polícia Federal. Após o assassinato da missionária, o pistoleiro Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, se escondeu na fazenda de Délio Fernandes, irmão de Silvério. Délio foi investigado como possível mandante, mas não chegou a ser julgado. Silvério também permaneceu incólume, apesar do histórico de intimidação.
Na noite de segunda-feira, Silvério circulava entre ruralistas de peso nacional. Ao seu lado estavam o presidente da Faepa, Carlos Xavier, e o vice-presidente da CNA, Gedeão Pereira.
Dois servidores da fiscalização agropecuária estadual comiam à mesa, enquanto o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, apareceu rapidamente. “Hoje é dia de descontração”, disse ele, segurando um copo de cerveja e recusando-se a conceder entrevista.
Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, marcou presença em churrasco da Abiec na Agrizone, espaço da Embrapa na COP30 (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)
No palco, a banda Frutos da Nossa Terra, formada por cinco senhores, tocava sucessos da MPB. Enquanto executavam O bêbado e o equilibrista, canção marcada por referências às vítimas da ditadura, os convidados comiam e bebiam em clima de confraternização.Em uma entrevista ao telefone, em 2018, Silvério ameaçou a reportagem, afirmando, em tom intimidador, que queria olhar nos olhos do repórter. Ao ser questionado se fazia uma ameaça, respondeu: “Que ameaça o que que? Vai te foder,
