A tragédia em Mariana (MG), que completa 10 anos neste dia 5 de novembro, arrasou famílias, destruiu cidades, poluiu rios e a lama tóxica deixou um rastro de destruição por onde passou. Uma das cidades mineiras atingidas por parte dos dejetos que saíram da barragem que se rompeu foi Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Este é o lugar onde vive o quadrinista João Marcos Mendonça, que acaba de lançar o álbum Doce Amargo, pela editora Nemo. A HQ, com roteiro e arte de João, mostra em 186 páginas o que sua cidade viveu há uma década.
A graphic novel é praticamente uma reportagem em forma de quadrinhos e mostra em detalhes o dia a dia das pessoas que viviam naquela região. Valadares, que fica a 328 quilômetros de Mariana, é banhada pelo Rio Doce, de onde é feito o abastecimento de água da cidade. Foi justamente por meio desse rio que começou todo o problema para os valadarenses. A lama da barragem de Mariana chegou ao Rio Doce alguns dias após seu rompimento e levou junto o caos para o lugar.
Notícias relacionadas:Desastre de Mariana completa 10 anos e moradores ainda buscam justiça .Caminhos da Reportagem volta a Mariana dez anos após tragédia.A HQ de João começa tratando da água e do Rio Doce. É que duas semanas antes da tragédia em Mariana, Valadares já convivia há dias com o racionamento de água devido a um longo período sem chuvas. Caminhões-pipa abasteciam casas e prédios de parte da cidade.
João e sua família são os protagonistas de Doce Amargo. É por meio do que eles viveram que vamos acompanhando as dificuldades que as pessoas passaram. Quando a lama chegou a Valadares, o autor começou a anotar tudo o que estava acontecendo.
“Nós estávamos vivendo algo histórico, por isso comecei a fazer um diário”, diz o autor. E continua: “o que me despertou para aquilo foi uma cena do caminhão do Exército distribuindo água. Foi um cenário de guerra”.
As anotações do quadrinista se transformaram em roteiro e desenho e pelas páginas vamos seguindo o drama de sua família, mas também o das pessoas ao redor. Um dos méritos do álbum é mostrar de perto as dificuldades dos valadarenses. Enquanto TVs, rádios, portais e jornais mostravam o macro da tragédia, a HQ coloca o leitor em contato com os moradores.
“Fiz o registro para contar o que eu estava vivendo. Quis mostrar o que não tinha nas TVs e na mídia”, revela João. Para o autor, um desastre desse nível “mostra números, cifras e queria deixar registrada a noção humana da tragédia. Era quase um apocalipse”
