<![CDATA[A liberdade da feira]]

<![CDATA[A ideia de feira de rua não é uma invenção brasileira. Os mercados livres em locais públicos existem desde a Antiguidade em boa parte do mundo. Mas é fato que foi por aqui que esse tipo de comércio ganhou cores, sotaques, produtos típicos e transformou-se em tradição popular.Um paulistano, por exemplo, normalmente sabe onde e em qual dia da semana fica a melhor feira da vizinhança, tem uma barraca de pastel favorita, conhece pelo nome um ou dois vendedores de frutas e, às vezes, já deixa o peixe encomendado no capricho.Conhece o macete da xepa, que derruba os preços dos vegetais lá pelo fim da manhã — com a desvantagem óbvia de que os exemplares melhores e mais vistosos são vendidos mais cedo. Entende o código da pechincha e nem sempre sorri com os bordões dos feirantes:— Um é três, dois é cinco, cinco é dez.— Aqui é barato, o marido da barata.— Pega no melão que aqui ele tá bom.— Moça bonita não paga, mas também não leva.Esse contexto faz com que o brasileiro se sinta mais do que um cliente ou consumidor: ele faz parte da comunidade feira livre, há pertencimento. “Ele se sente acolhido, inserido num local onde pode participar livremente, interagir do modo como desejar. No tempo da feira, o homem do povo sente que tem voz, que pode se expressar em um espaço democrático e até ganhar fôlego para transformar uma situação. Quase como uma validação da cidadania, uma oportunidade de colocar o poder na mão de pessoas pobres”, diz a pesquisadora Camila Aude Guimarães, em trabalho realizado em 2010 no Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo (Celacc-USP). “E, assim, o indivíduo ganha ânimo para continuar a rotina com mais força. Outra constatação interessante é que em uma feira livre estão presentes todos os aspectos da cultura popular — oralidade, espacialidade, artesanato e festa”, afirma, na sua pesquisa.“Feira de rua é, sem dúvida, um traço cultural do qual o brasileiro não abre mão”, pontua a gastrônoma e historiadora Camila Landi, professora e coordenadora do curso de Tecnologia em Gastronomia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Está associado à sua rotina. Ele frequenta as feiras praticamente toda semana”, ressalta.De acordo com a historiadora, esses espaços retratam aspectos históricos e culturais, uma vez que neles é “possível identificar a diversidade presente”, ou seja, “o que se come, a média de consumo, as predileções”, além de “aspectos associados à segurança alimentar, os hábitos i

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