Em tempos de redes sociais, vídeos curtos e mensagens instantâneas, a leitura pode parecer um hábito em declínio. Mas, apesar da concorrência com outras formas de consumo de informação, ela continua insubstituível quando se trata de formar cidadãos críticos e conscientes. Ler é mais do que decifrar palavras em uma página: é mergulhar em profundidade, exercitar a concentração e abrir horizontes que a superficialidade digital dificilmente alcança.
A leitura tem a capacidade de ampliar repertórios. Um livro de ficção transporta o leitor para mundos e personagens diferentes, despertando empatia e sensibilidade. Textos técnicos organizam o raciocínio e permitem compreender problemas complexos. Ensaios e artigos desafiam convicções e estimulam o debate. Cada gênero contribui de uma maneira específica, mas todos se somam na tarefa de preparar pessoas para compreender melhor a realidade e participar ativamente da vida social.
É comum associar leitura apenas ao período escolar, mas esse é um equívoco. O hábito de ler precisa ser cultivado ao longo da vida. Em sociedades desenvolvidas, a leitura é vista como prática cotidiana, não como obrigação escolar. Essa continuidade é o que fortalece a capacidade crítica da população e, em última análise, a própria democracia. Cidadãos que leem são menos vulneráveis a discursos simplistas e desinformação.
No Brasil, ainda enfrentamos enormes desafios. As estatísticas mostram que muitos jovens concluem o ensino básico sem compreender plenamente o que leem. Isso limita não apenas suas oportunidades profissionais, mas também sua participação cidadã. Uma pessoa que não domina a leitura tem mais dificuldade para entender contratos, leis, notícias ou mesmo instruções do cotidiano. E, sem acesso pleno à informação, não há como exercer direitos de forma efetiva.
Incentivar a leitura desde cedo é uma das políticas públicas mais estratégicas que um país pode adotar. Bibliotecas escolares bem equipadas, programas de acesso a livros digitais, incentivo à produção editorial nacional e campanhas de valorização da leitura são caminhos necessários. Mas a responsabilidade não é apenas do Estado. Famílias, empresas e comunidades também podem e devem estimular o hábito, seja com clubes de leitura, doação de livros ou projetos culturais locais.
A leitura também tem dimensão de inclusão social. Em comunidades vulneráveis, criar espaços de leitura pode significar oferecer uma alternativa concreta ao ócio improdutivo ou à exposição a riscos. O livro se torna, assim, instrumento de mobilidade e esperança. Histórias inspiradoras de jovens que mudaram sua trajetória a partir da leitura mostram que investir nesse hábito não é utopia, mas estratégia de transformação.
No fim, o poder da leitura está em sua simplicidade. Não exige grandes equipamentos, apenas tempo, atenção e acesso ao texto. Mas, justamente por ser simples, seu impacto é profundo. Quem lê desenvolve autonomia intelectual, fortalece a imaginação e ganha instrumentos para participar da vida pública de forma mais consciente. É por isso que uma sociedade leitora é, necessariamente, uma sociedade mais livre.
